Há instantes cheirou-me a amores antigos, a paixões perdidas. Sabem quando o olfacto nos trai relembrando-nos odores há muito soterrados no âmago do subconsciente? Pois bem, hoje, o meu nariz, qual arqueólogo do sentir, recuperou os relicários dum passado emocional que julgava perdido na bruma do devir. Chamava-se MG. (vamos mantê-la assim no discreto anonimato de um monograma). Extremenha de nascimento, Salmantina por adopção. Olhares taciturnos interceptaram-se numa primeva tarde de Jardim do Éden. Estendeste-me copiosamente a maçã carnuda do teu seio e eu, genuflectindo à laia de cruzado, sucumbi ao teu canto de Sereia. E quantas vezes, naufragados nos lençóis depois que o sexo se faz mole, sussurraste-me em mesura cervantina melífluas promessas de eternidade. E eu, Lot fugido na eminência dos dias últimos de Sodoma e Gomorra, rompi em pranto e soube, à medida que os quilómetros se adicionavam expandindo o abismo entre nós, que nunca mais teria acesso ao teu terno regaço nem jamais provaria a exacta medida do teu amplexo.
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34 comentários:
Como te entendo... ao ler este post, tive pensamentos pecaminosos... com aquele que tem um corpo de Adão, o olhar de Adónis. que eu temo em lembrar sempre que leio algo mais carnal.
Oh Demóstenes!... não me lembres dessas coisas a esta hora da manhã :P
Abraço
Sairaf
Demóstenes, que homem feliz! Nem todos têm para relembrar momentos tão belos.
Eros foi um malvado em tê-los deixado ao abandono.
O Demóntenes quer brincar. Como os meninos não brincaram com ele, foi resgatar brincadeiras passadas.
Somos servos subtis dos nossos sentidos, naquilo que aconteceu e no que podemos imaginar.
Tb gostei do que aqui vim encontrar, também voltarei.
Sairaf,
Como dizia o outro recordar é viver... ou será vegetar?
Maria Teresa,
Sim, de facto, foi uma bela história de amor. Agora vivo uma espécie de ataraxia emocional. E não foram os deuses que congeminaram a separação; essa foi tão só fruto do meu preconceito.
Rosa:
Mais feliz agora que tenho companhia.
hfm:
Sê bem-vinda. Mi casa, es su casa.
Demóstenes, assim que li os teus posts, a primeira coisa que me veio à cabeça foi:
"Rodion Romanovich Raskolnikov"
Só por isso, voltarei.
Não se deixa emocionar? A inquietude está ausente da sua vida? É um ser (im)pertubável? Não posso crer pelo modo como escreve.
Não falei em deuses, falei em Eros o Deus do Amor Sexual.
Preconceito? Num envolvimento amoroso? Essa "mistura" confunde-me e perturba-me.
Tiago:
Não sei se equiparar o meu Demóstenes ao personagem de Dostoievski deva ser tomado como elogio...
De qualquer das formas, as portas estão escancaradas e volte sempre!!!
Maria Teresa:
Quiçá o termo mais adequado seja pré-conceito ou ideias pré-concebidas...as típicas de que uma relação à distância (não só espacial mas também linguística e cultural) não funciona. Foi (muitíssimo) bom enquanto durou.
Fico nostálgica quando tomo conhecimento do fim de uma "muitíssimo" boa história de amor, seja ela muito antiga, recente ou imaginária
Gostei !
Textos bem escritos, com algo que me deixa um pouco envergonhada pela ligeireza do meu blog. Mas o meu é para ser ligeiro, o teu é para ser relido =)
Gostei, vou voltar!
Obrigada pela tua passagem lá.
Beijo*
Demóstenes, foi com intenção elogiosa que disse o que disse.
Tudo o que fuja à mediocridade geral, é digna da minha total atenção.
A memória daqueles que outrora foram presentes tornam-nos conscientes do quanto agora significam para nós: fugazes imagens de um passado que, às vezes, é bom recordar.
;)
Obrigada pela visita. E sim, poderia ser uma dissertação acerca do tecto da Sistina, mas a minha natural humildade deixou-me por um inscrito no nosso pequeno rectângulo... Onde existe todo um património que merece igual destaque.
Maria Teresa,
Outras virão. Ou não.
Andreia,
jamais tenha vergonha das suas coisas! Eu escudo-me por detrás de parágrafos elaborados e vocábulos inusitados quando, no fundo, queria ser dono da simplicidade d'"O Principezinho".
Tiago,
Não me leve a mal a observação anterior. De alguma forma, assustou-me a comparação com o Ródia. Desfeito o equívoco, agradeço agora o encómio.
Maria,
boa sorte na finalização da sua tese. Sim, o nosso pequeno rectângulo está pejado de um vastíssimo património que recorda a grandiosidade de tempos idos. Pena é que seja, tantas vezes, malbaratado. Cabe a todos nós, mas particularmente aos especialistas, a defesa deste valioso acervo.
Obrigado a todos pela visita.
Prefiro o recordar é viver, a vida é isso mesmo, escrever a nossa história e lembra-la mesmo que tenha momentos menos bons.
Eu prefiro aqueles que me dão a alegria do momento, pois são esses que me fazem sentir viva.
Eu adoro recordar.
Vegetar não...
Abraço
Sairaf.
Levada pela curiosidade chego ao teu espaço. És Demóstenes. Tenho-te visto. Vim ver onde moras. Aqui está frio. Isto não é o meu espaço. É estranho! É frio. Sinto-me até algo intimidada. Gostei. Passarei por cá em silêncio, talvez comente algo, mas fá-lo-ei na minha lingua e linguagem.
Gostei ;)
Miss Complicações,
Obrigado pela visita.
Não te inibas de comentar. Este espaço quer-se o mais eclético e democrático possível.
De futuro talvez escreva qualquer coisa menos pesada...
Nada disso. Escreve na tua lingua. Brinca com as palavras e com o saber. Aprendemos a tentar alcançar o que não conhecemos. Não considero que seja pesado. Comentarei quando acho que terei algo a dizer. De qualquer forma posso sempre deixar um sorriso e uma "Boa Noite" :)
Ai, as memórias!
Gostei do que aqui li, vou voltar com toda a certeza.
Obrigada :)
Cuidado... não te transformes em estátua de sal. Se bem que esse seria um final apoteótico para a trama.
*
Ginger,
ou um final tramado para apoteose???
Pronúncia,
Obrigado eu pela visita!!!
Mi casa, es tu casa.
Sabes - o cheiro é a única coisa que não nos trai na senda da procura do amor. O cheiro é a expressão da química mais autêntica do indivíduo e também o sentido que mais directamente chega à alma. É atávico. O cheiro regista-se no cérebro, entrelaçado com os sentimentos que despertou pela primeira vez, e entranha-se em nós, porque ao recordá-lo sentimos tudo outra vez.
Vim retribuir a visita, e também por curiosidade. Volto seguramente.
Princesa,
O teu comentário é digno de rainha.
Obrigado pela visita.
Obrigado pelo comment :)
Tens razão no que disseste, não há nada que me custe mais que essas atrocidades a algo que eu amo tanto...
Que texto *.* Perfeito.
Beijinho*
Brid,
Obrigado pela visita.
Volta sempre que quiseres.
Acho que gostei.
Filipa,
e eu tenho a certeza que gostei da tua visita.
Volta sempre.
Demóstenes passei por aqui para dar uma vista de olhos no teu blog e agradecer a tua visita. Para um blog que teve início em Setembro conseguir 28 comentários num simples post sobre memória olfactiva é muito bom. Não vou comentar a tua saudade olfactiva mas sim na história de Sodoma e Gomorra. Está história sempre me fascinou, tirei daqui várias conclusões que me foram guiando ao longo da vida. Uma delas foi, sem dúvida, que olhar para o passado paralisa-nos. Outra ainda foi que devemos obedecer às leis impostas para que não soframos, mais tarde, as consequências. Mas, esta última, está já em desuso. Hoje a desobediência em vez de castigada é premiada, e Deus deixou de avisar os “bons” sendo, estes, apanhados em vez de salvos. Todas elas levam-nos a não pensar no passado nem, tão pouco, a compara-lo com o presente.
Não sou eu que digo mas, neste momento, amanhã posso mudar de opinião, apoio Kiskegaard quando afirma: "A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para a frente"
Brown Eyes,
Metade dos comments são meus...
Uma delas foi, sem dúvida, que olhar para o passado paralisa-nos ou torna-nos em sal (portanto salgados, não doces).
Obrigado pela visita!
Maria Teresa,
Nem mais!
Por isso,Kierkegaard foi um grande filósofo (=amigo da sabedoria, logo sábio). Soube capturar numa pequena frase uma imensa verdade.
I'm very impressed!!!
:) A ataraxia emocional ( e vegetação...) é mútua...como também se depreende do meu próprio texto da boarding house). Gostei do teu blogue, acho que voltarei.
Eva Gonçalves,
Será sempre bem-vinda.
Obrigado.
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