O dia ergueu-se, sisudo, do seu leito de estrelas e travesseiro em quarto crescente.
O rapaz, por contraste, acordou de sorriso no rosto, com a determinação férrea de quem tem uma missão a cumprir. Àquela hora, meia cidade ainda recuperava, dormindo, dos excessos da noite anterior. Escovou os dentes num compasso lento e metódico, atirou ao rosto uma mão cheia de água gélida debitada pela canalização, depois outra e ainda uma última, certificando-se assim que, com esta operação, matava qualquer resquício de sonolência. Encarou o seu próprio reflexo projectado na superfície platinada do velho espelho e passou as falanges ossudas, qual pente improvisado, pelas melenas loiras do seu farto cabelo, afagando-as em movimentos lentos de vaivém. Forrou, depois, o estômago com um frugal pequeno-almoço e saiu batendo atrás de si a porta silenciosamente. Estava pronto.
Pum! Retine nervoso o tiro de partida e os corredores, na sua ânsia de gnus, dão início ao estranho bailado de corpos, numa multiplicidade de cores, formando um caleidoscópico arco-íris de braços e pernas em constante movimento. Ninguém poderá talvez explicar racionalmente, para lá de qualquer sombra de dúvida, porque se arrancaram estes homens e mulheres ao conforto dos seus lares num tão dia agreste; alguns, como o herói da nossa história, madrugaram e deslocaram-se várias centenas de quilómetros para se congregarem nesta irmandade. Nesta comunhão silenciosa de devotos da corrida pedestre, os quilómetros sucedem-se vagarosamente ao ritmo das passadas de novos e velhos, deles e delas, de brancos e pretos. Os músculos incendeiam-se a cada palmo de estrada; o coração apressa-se a bombear a seiva vital , oxigenada pelos pulmões que servilmente se dilatam e contraem vezes sem conta num esforço maquinal de corporação de bombeiros. Sob a batuta magistral do cérebro, todos os órgãos trabalham harmoniosamente com o objectivo comum de impelir o conjunto a conquistar metro após metro. O milagre repete-se tantas vezes quantas o número de cabeças da multidão e aquela turba digladia-se paciente e ferozmente contra o mais inclemente dos inimigos: o tempo. O rapaz não é excepção. Padece agora, silenciosamente e em comunhão com os seus irmãos, as agruras da dor física provocada pela crescente exaustão. Em tempos pré-históricos, pensa, o homem caçador/recolector teve a aptidão de cobrir largas dezenas de quilómetros em suas caçadas com o mínimo de fadiga. Nós, filhos orgulhosos da Revolução Industrial, debruçados sobre os nossos dilatados ventres de condutores de sucedâneos do Ford-modelo T, perdemos progressivamente esta capacidade inata. Estes e outros pensamentos entretêm-lhe o espírito e os quilómetros sucedem-se, ritmados, desembocando na tão almejada meta.
Passara, incólume, a dura provação; lutara essencialmente contra si mesmo, o seu medo de fracasso, a sua vontade gritante de optar pelo mais fácil e tudo isto vencera com vontade de cruzado. Uma gratificante sensação de auto-realização e superação inundava-lhe agora a alma. Pela dura forja da maratona, tornara-se um ser humano melhor.
Doravante não mais seria o mesmo.
O rapaz, por contraste, acordou de sorriso no rosto, com a determinação férrea de quem tem uma missão a cumprir. Àquela hora, meia cidade ainda recuperava, dormindo, dos excessos da noite anterior. Escovou os dentes num compasso lento e metódico, atirou ao rosto uma mão cheia de água gélida debitada pela canalização, depois outra e ainda uma última, certificando-se assim que, com esta operação, matava qualquer resquício de sonolência. Encarou o seu próprio reflexo projectado na superfície platinada do velho espelho e passou as falanges ossudas, qual pente improvisado, pelas melenas loiras do seu farto cabelo, afagando-as em movimentos lentos de vaivém. Forrou, depois, o estômago com um frugal pequeno-almoço e saiu batendo atrás de si a porta silenciosamente. Estava pronto.
Pum! Retine nervoso o tiro de partida e os corredores, na sua ânsia de gnus, dão início ao estranho bailado de corpos, numa multiplicidade de cores, formando um caleidoscópico arco-íris de braços e pernas em constante movimento. Ninguém poderá talvez explicar racionalmente, para lá de qualquer sombra de dúvida, porque se arrancaram estes homens e mulheres ao conforto dos seus lares num tão dia agreste; alguns, como o herói da nossa história, madrugaram e deslocaram-se várias centenas de quilómetros para se congregarem nesta irmandade. Nesta comunhão silenciosa de devotos da corrida pedestre, os quilómetros sucedem-se vagarosamente ao ritmo das passadas de novos e velhos, deles e delas, de brancos e pretos. Os músculos incendeiam-se a cada palmo de estrada; o coração apressa-se a bombear a seiva vital , oxigenada pelos pulmões que servilmente se dilatam e contraem vezes sem conta num esforço maquinal de corporação de bombeiros. Sob a batuta magistral do cérebro, todos os órgãos trabalham harmoniosamente com o objectivo comum de impelir o conjunto a conquistar metro após metro. O milagre repete-se tantas vezes quantas o número de cabeças da multidão e aquela turba digladia-se paciente e ferozmente contra o mais inclemente dos inimigos: o tempo. O rapaz não é excepção. Padece agora, silenciosamente e em comunhão com os seus irmãos, as agruras da dor física provocada pela crescente exaustão. Em tempos pré-históricos, pensa, o homem caçador/recolector teve a aptidão de cobrir largas dezenas de quilómetros em suas caçadas com o mínimo de fadiga. Nós, filhos orgulhosos da Revolução Industrial, debruçados sobre os nossos dilatados ventres de condutores de sucedâneos do Ford-modelo T, perdemos progressivamente esta capacidade inata. Estes e outros pensamentos entretêm-lhe o espírito e os quilómetros sucedem-se, ritmados, desembocando na tão almejada meta.
Passara, incólume, a dura provação; lutara essencialmente contra si mesmo, o seu medo de fracasso, a sua vontade gritante de optar pelo mais fácil e tudo isto vencera com vontade de cruzado. Uma gratificante sensação de auto-realização e superação inundava-lhe agora a alma. Pela dura forja da maratona, tornara-se um ser humano melhor.
Doravante não mais seria o mesmo.
10 comentários:
Demóstenes
digladia-se
Habituou-me a textos tão ricos que este ficou muito aquém da meta...
E que é a maratona, senão uma tentativa de superação dos limites?!
Gostei...
Lá está a ligação passado presente. A vontade, a determinação, o querer é o que nos move mesmo em condições adversas. O que nós conseguimos quando estamos motivados a alcançar um objectivo!
Maria Teresa,
é o eterno problema das expectativas...
Pronúncia,
para mim toda a provação física (a maratona não é excepção) encerra em si mesma um profundo sentido ascético, de auto-conhecimento e edificação do carácter.
Brown Eyes,
Nem mais; (quase sempre) querer é poder!
Se queremos muito, havemos de conseguir. Nao, nao me inspirei naquela estupida obra prima chamada "O segredo". Acredito no poder do esforço.
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