Lembram-se deste?
Pois bem, a história é simples e seria até hilariante não fora o protagonista um velho amigo de infância. Diagnosticaram-lhe esquizofrenia, toma lá meia dúzia de drunfos para conter as vozes interiores, virou asceta - barba pelo peito, cabelo a ocultar o garrote, sandálias a condizer - e percorre diariamente, sol-a-sol, animado por uma qualquer invisível força interior - as vozinhas outra vez - as ruelas do povoado para estupefacção de uns, temor de outros, desprezo de todos, à passagem de tão volumoso e sinistro vulto.
Ainda agora passou a passos largos ao portão da ti'Alcina, curandeira de renome com créditos firmados até nas aldeias vizinhas, dois "credo em cruz" acompanhados por igual número de benzeduras - protecção divina nunca é de mais num nítido caso de possessão demoníaca como este - e seguiu caminho pelo carreiro da Fonte do Cão acima adentrando-se pelo mato qual bicho acossado por matilha de cães de caça. Só volta ao fim do dia. O que faz nos entretantos permanece um mistério para a populaça e é mote das mais acesas teses defendidas com vigor, inflamado por sucessivos copos de tinto, na taberna do Vadio.
A aldeia é cruel para quem é diferente. Que o diga o Danielzinho, bicha com muito gosto e prazer - o dele, cruzes credo!!! Quando saiu do armário, como é moda agora dizer-se, foi motivo de chacota geral perante o desgosto dos incrédulos progenitores, julgado sumariamente no areópago do Vadio. A mãe talvez já desconfiasse, no seu íntimo, das inclinações do rapaz e, corre à boca miúda, não terá sido alheia à definição sexual, chamemos-lhe assim, da criança já que, desde tenra idade, gostava de lhe vestir trajes de rapariga, que seu ventre até então só parira varões, e este mais novo queria-se menina.
10 comentários:
Volta e meia renasce... tenho saudades dos seus comentários... :))A vida é sempre cruel para quem é diferente, em qualquer aldeia...
Continua a escrever bem e acutilantemente... beijinho
Não é só a aldeia que é cruel para com a diferença! O mundo é cruel perante tudo o que pareça desviar-se dos padrões de comportamento estabelecidos. As minorias sempre incomodaram particularmente as maiorias!
Foi um gosto ler-te, como sempre! Pena ser poucas vezes!
São mesmo histórias da aldeia mas na cidade não é muito diferente. Sorte que ninguém se conhece senão...as más línguas tinham muito que fazer
Triste dos pobres de espírito que não aceitam as diferenças..
Este mundo não é real... é mais surreal, e a tolerância ainda é uma cena que a muita gente não assiste:)
ADENDA
Como podem ver, aconteceu uma duplicação do testículo, com x, no post anterior. O blogger está absolutamente marado! O Google ou arranja isto ou perde toda a clientela. A mim, por exemplo e por este andar, perde; mudo-me para o Sapo, se estas porras continuarem a acontecer, ai mudo, mudo
+ abç para tu
Demóstenesamigo
A aldeia, a cidade, o país, o mundo são todos cruéis, insensíveis, ferozes - e nós compactuamos, não fazemos nada para ultrapassar estes anátemas de que falas. Lamentável...
E AGORA ATENÇÃO
Acabei de publicar na nossa Travessa um testículo com x, INTERDITO a Senhoras, menores e até cavalheiros da mais esmerada educação. É um tanto brejeiro e pode ferir a susceptibilidade ou até mesmo o pudor de quem se atreva-la a lê-lo. Intitula-se A garrafa e os copos. Dele me permito transcrever um passo dos mais inocentes.
“Ela, muda e febril, deixou-se levar, estendeu-se na cama, ele perguntou-lhe posso pôr-lhe o instrumento, refiro-me, claro, ao termómetro, no sovaco? Nata, sem uma palavra, desatou o nó do cinto do roupão, abriu-o um pouco, a camisa de noite não ocultava nada, quando ele se inclinou para tirar a temperatura, os bicos dos seios fugiam da prisão diáfana.”
Repito o alerta: é IMPRÓPRIO para consumo. Depois, não digam tu e a tua malta que não avisei.
Abç
Boas Festas, desaparecido! :))
Retalhos da vida...
Gostei...
Nice post! I love your blog
vestido de noivavestido madrinha
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