Dormi mal. Aliás, não dormi. Dormitei. Os filhos das putas dos cães da vizinhança latiram toda a santa noite. A páginas tantas, ocorreu-me que uma ou duas sôfregas quecas rendessem o corpo exangue aos braços inebriantes de Hipnos; mas, do outro lado, não houve a necessária receptividade. Ora foda-se!!! Aninho-me amuado e, qual Priapo com o sexo ainda em riste, cerro os olhos na esperança de que o torpor acalme rapidamente o viril ímpeto. Em vão; os cães outra vez.
Ao almoço, o segundo momento surreal do dia.
Horas antes, havia-me ligado um daqueles amigos de infância com quem se criam laços para toda a vida mas de quem, por artes e manhas desta, há muito não tinha notícias. Recebi com agrado a notícia de que se havia recentemente mudado para a grande cidade. Convidava-me para almoçar em sua nova casa hoje mesmo. Acedi de imediato.
À hora marcada lá estava eu, no nº tal da rua X, conforme indicado.
Recebeu-me com grande festa e de braços abertos ainda em plena rua. O sentimento foi espontâneo e recíproco.
-“Estás mais gordo, pá!” – disse-lhe eu.
Ao que este retorquiu: “E essa guedelha, quando é que se corta!!!”
Entrámos no prédio, uma construção antiga mas recentemente requalificada, e posteriormente, no seu respectivo apartamento. Decoração espartana mas de bom gosto, como convém em casa de mancebo solteiro. Gostei. Senti no ar a luxúria e devassa de tempos idos, da faculdade. Conversa puxa conversa, e enquanto o coadjuvava na confecção de uma pasta al tonno (nome chique para uma simples massa com atum), cai a bomba em forma de revelação. O meu amigo assumia ali, perante mim, o mais improvável dos confidentes nestas coisas, a sua homossexualidade! Em pano de fundo um grave Requiem de Mozart adensa o dramatismo da cena (o meu amigo é, tal como eu, um grande melómano). Cria-se inevitavelmente um certo desconforto agravado pela pequenez da cozinha que forçava a proximidade física.
To be continued...
5 comentários:
O ter comentado no meu blogue aguçou-me a curiosidade, tive que vir espreitar o seu. Escreve bem mas o porquê de ter só dois posts?
Maria Teresa,
tempus fugit...
Como tropeçou, mas não caiu, no meu blogue deixei-lhe lá um desafio, espero que tenha tempo, que o aceite e aplique o tom mordaz com que escreve. :))
Onde está a II parte, é para "morrermos" com o suspense?
Ou não tem coragem para aceitar um desafio?
Maria Teresa,
ainda estou a congeminar uma continuação que não defraude a expectativa criada. A seu tempo terá desfecho esta novela mexicana...
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