sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Twilight zone (parte I)

Dormi mal. Aliás, não dormi. Dormitei. Os filhos das putas dos cães da vizinhança latiram toda a santa noite. A páginas tantas, ocorreu-me que uma ou duas sôfregas quecas rendessem o corpo exangue aos braços inebriantes de Hipnos; mas, do outro lado, não houve a necessária receptividade. Ora foda-se!!! Aninho-me amuado e, qual Priapo com o sexo ainda em riste, cerro os olhos na esperança de que o torpor acalme rapidamente o viril ímpeto. Em vão; os cães outra vez.

Ao almoço, o segundo momento surreal do dia.

Horas antes, havia-me ligado um daqueles amigos de infância com quem se criam laços para toda a vida mas de quem, por artes e manhas desta, há muito não tinha notícias. Recebi com agrado a notícia de que se havia recentemente mudado para a grande cidade. Convidava-me para almoçar em sua nova casa hoje mesmo. Acedi de imediato.

À hora marcada lá estava eu, no nº tal da rua X, conforme indicado.

Recebeu-me com grande festa e de braços abertos ainda em plena rua. O sentimento foi espontâneo e recíproco.

-“Estás mais gordo, pá!” – disse-lhe eu.

Ao que este retorquiu: “E essa guedelha, quando é que se corta!!!”

Entrámos no prédio, uma construção antiga mas recentemente requalificada, e posteriormente, no seu respectivo apartamento. Decoração espartana mas de bom gosto, como convém em casa de mancebo solteiro. Gostei. Senti no ar a luxúria e devassa de tempos idos, da faculdade. Conversa puxa conversa, e enquanto o coadjuvava na confecção de uma pasta al tonno (nome chique para uma simples massa com atum), cai a bomba em forma de revelação. O meu amigo assumia ali, perante mim, o mais improvável dos confidentes nestas coisas, a sua homossexualidade! Em pano de fundo um grave Requiem de Mozart adensa o dramatismo da cena (o meu amigo é, tal como eu, um grande melómano). Cria-se inevitavelmente um certo desconforto agravado pela pequenez da cozinha que forçava a proximidade física.


To be continued...

5 comentários:

maria teresa disse...

O ter comentado no meu blogue aguçou-me a curiosidade, tive que vir espreitar o seu. Escreve bem mas o porquê de ter só dois posts?

Demóstenes disse...


Maria Teresa,

tempus fugit...

maria teresa disse...

Como tropeçou, mas não caiu, no meu blogue deixei-lhe lá um desafio, espero que tenha tempo, que o aceite e aplique o tom mordaz com que escreve. :))

maria teresa disse...

Onde está a II parte, é para "morrermos" com o suspense?
Ou não tem coragem para aceitar um desafio?

Demóstenes disse...


Maria Teresa,

ainda estou a congeminar uma continuação que não defraude a expectativa criada. A seu tempo terá desfecho esta novela mexicana...

Reunião de (con)domínio

     Fim de tarde de Março, marçagão.      Soturnamente contemplo ao longe as nuvens que, neste fim de tarde, açoitadas por Éolo, cavalgam c...