Vem a brejeirice de inquestionável mau-gosto a propósito desta notícia.
Um padre, apesar de homem de Deus por vocação, chamamento ou outra coisa qualquer, é, primeiramente, um homem. E um homem inteiro já que longe vão os tempos veterotestamentários em que o culto se servia de eunucos.
Um padre, apesar de homem de Deus por vocação, chamamento ou outra coisa qualquer, é, primeiramente, um homem. E um homem inteiro já que longe vão os tempos veterotestamentários em que o culto se servia de eunucos.
Depois do badalado caso do padre pistoleiro, profeticamente baptizado de Guerra, no remoto faroeste transmontano, chega-nos agora mais uma novela envolvendo o baixo clero. Desta feita, trata-se da pouco original história de um padreca que, aos primeiros arroubos da paixão carnal (convém distinguir; que outras há - como a de Nosso Senhor), vai de esquecer os votos canónicos e os deveres eclesiásticos e dar de frosques com a sua Hermengarda para parte incerta, deixando paróquias em alvoroço e paroquianos incrédulos. Ficou o rebanho desgarrado pela falta do pastor, violentamente arrancado às suas ovelhas por artimanhas do Amor.
Já revelei aqui que eu próprio fui, há pouco mais de uma década, seminarista diocesano e, por tal, estou especialmente habilitado a abordar o assunto com alguma propriedade.
Meus amigos, isto é o que dá encerrar pré-adolescentes de treze anos de idade na atmosfera contra-natura da clausura de um Seminário, como me aconteceu a mim, por força de circunstâncias diversas que não vêm agora ao caso, e a outros como eu. Pior: nessa época não muito distante, o ambiente vivido nessas instituições de inabalável virtude era de tal forma masculino e masculinizado que os afectos, daqueles que ainda não os tinham bem definidos, eram por vezes canalizados para elementos do mesmo sexo. Alguns ex-colegas, vim a saber, viriam mais tarde a assumir a sua homossexualidade, revelação que, a quem como eu com eles privou, não suscitou a mínima surpresa.
Eu, porém, pertencia ao bem mais colorido e saudável grupo dos que ludibriavam pulsões adolescentes às custas de imaginar aqueles dois montículos proeminentes de carne que pulsavam, na cadência ritmada da respiração, debaixo da blusa da Margarida. A Guidinha era uma empregada da casa, no vigor dos seus dezoito ou dezanove anos, um pouco mais velha que a maior parte de nós portanto, que auxiliava as Irmãs (freiras entenda-se) nas lides da cozinha ou da lavandaria e cumpria simultaneamente, ainda que desconhecendo-o ou talvez não, a nobre e altruísta função de, como se disse, alimentar imaginários pueris. E a malta gostava de sobremaneira da Guida e do que esta representava para nós. Estas imaginações, julgo eu que nunca passaram disso mesmo já que a moça dava-se muito ao respeito, amenizavam o nosso sério quotidiano juvenil passado entre estudo, oração, desporto e outras tarefas próprias da casa.
No meu último ano de Seminário Menor, o 12º lectivo, o Sr. Bispo e o Sr. Reitor, num raro rasgo visionário, decretaram que a instituição iria transitar de um regime exclusivo de internato para um regime mais aberto, com recurso a aulas no exterior numa das escolas secundárias da cidade, num gesto que teve tanto de progressista como de economicista já que o decrescente número de alunos não justificava mais os encargos pesados de manter um corpo docente próprio. Foi como atirar cordeirinhos para o meio dos lobos. E das lobas.
Tudo isto a propósito do jovem presbítero desertor que, apesar de alguma distância temporal, deve ter tido uma vivência semelhante à minha, já que a Santa Igreja Católica mede o tempo em séculos e por isso é tão resistente às mudanças que os tempos exigem e assim parece irremediavelmente condenada a apanhar sempre a última carruagem do comboio do progresso.
Colhe a minha simpatia o jovem padre que, no recato do Seminário, deve ter lido Zola, Herculano e Queiroz, o que lhe terá certamente acicatado um espírito romântico já de si fecundo em devaneios amorosos. Teve ainda a decência, o clérigo, de pedir permissão de namoro aos pais da amada, coisa antiga só mesmo de padre, e, perante a negativa destes, não teve outro remédio senão enveredar pela menos airosa via da fuga. Ressalve-se que tudo foi feito na legalidade da recente maioridade da rapariga. É que Deus, na Sua infinita generosidade, perdoa estas e outras falhas. Os homens é que talvez não.
Já revelei aqui que eu próprio fui, há pouco mais de uma década, seminarista diocesano e, por tal, estou especialmente habilitado a abordar o assunto com alguma propriedade.
Meus amigos, isto é o que dá encerrar pré-adolescentes de treze anos de idade na atmosfera contra-natura da clausura de um Seminário, como me aconteceu a mim, por força de circunstâncias diversas que não vêm agora ao caso, e a outros como eu. Pior: nessa época não muito distante, o ambiente vivido nessas instituições de inabalável virtude era de tal forma masculino e masculinizado que os afectos, daqueles que ainda não os tinham bem definidos, eram por vezes canalizados para elementos do mesmo sexo. Alguns ex-colegas, vim a saber, viriam mais tarde a assumir a sua homossexualidade, revelação que, a quem como eu com eles privou, não suscitou a mínima surpresa.
Eu, porém, pertencia ao bem mais colorido e saudável grupo dos que ludibriavam pulsões adolescentes às custas de imaginar aqueles dois montículos proeminentes de carne que pulsavam, na cadência ritmada da respiração, debaixo da blusa da Margarida. A Guidinha era uma empregada da casa, no vigor dos seus dezoito ou dezanove anos, um pouco mais velha que a maior parte de nós portanto, que auxiliava as Irmãs (freiras entenda-se) nas lides da cozinha ou da lavandaria e cumpria simultaneamente, ainda que desconhecendo-o ou talvez não, a nobre e altruísta função de, como se disse, alimentar imaginários pueris. E a malta gostava de sobremaneira da Guida e do que esta representava para nós. Estas imaginações, julgo eu que nunca passaram disso mesmo já que a moça dava-se muito ao respeito, amenizavam o nosso sério quotidiano juvenil passado entre estudo, oração, desporto e outras tarefas próprias da casa.
No meu último ano de Seminário Menor, o 12º lectivo, o Sr. Bispo e o Sr. Reitor, num raro rasgo visionário, decretaram que a instituição iria transitar de um regime exclusivo de internato para um regime mais aberto, com recurso a aulas no exterior numa das escolas secundárias da cidade, num gesto que teve tanto de progressista como de economicista já que o decrescente número de alunos não justificava mais os encargos pesados de manter um corpo docente próprio. Foi como atirar cordeirinhos para o meio dos lobos. E das lobas.
Tudo isto a propósito do jovem presbítero desertor que, apesar de alguma distância temporal, deve ter tido uma vivência semelhante à minha, já que a Santa Igreja Católica mede o tempo em séculos e por isso é tão resistente às mudanças que os tempos exigem e assim parece irremediavelmente condenada a apanhar sempre a última carruagem do comboio do progresso.
Colhe a minha simpatia o jovem padre que, no recato do Seminário, deve ter lido Zola, Herculano e Queiroz, o que lhe terá certamente acicatado um espírito romântico já de si fecundo em devaneios amorosos. Teve ainda a decência, o clérigo, de pedir permissão de namoro aos pais da amada, coisa antiga só mesmo de padre, e, perante a negativa destes, não teve outro remédio senão enveredar pela menos airosa via da fuga. Ressalve-se que tudo foi feito na legalidade da recente maioridade da rapariga. É que Deus, na Sua infinita generosidade, perdoa estas e outras falhas. Os homens é que talvez não.